14 de fev. de 2012

Do Latim, Patior...

valentines

Que é a paixão? Será a transmutação dos valores, o inconsciente, a criatividade, o amor transfigurado, a antítese do ódio, o perigo real? Se é da paixão que trata a literatura e se não há romantismo literário sem a imagem da mulher, não haverá a palavra paixão sem a idéia do feminino subentendida. Por que nos tornamos objetos desse sentimento e ainda buscando-o em todos os campos da vida, sabendo-o fugaz, nos permitimos aos sintomas extremos a que ele nos induz?

Bem se sabe que o grande movimento da paixão, o Romantismo -pelo menos no Brasil- foi um projeto de nacionalidade que para além disso, tinha caráter didático para a classe feminina, que aprenderia ali como se portar perfeitamente, sendo narradas cheias de perfeições fenotípicas e repletas de qualidades de anjo. Aliás, o principal precursor da corrente, o calvinista Jean Jackes Rousseau, acreditava na natureza virginal das mulheres e das crianças, que não se corrompiam [pela condição de inferioridade], aos pensamentos do homem.

A paixão, palavra que vem do verbo latino,
patior, que significa sofrer ou suportar uma situação dificil, significa também pertubação e doença, e na prática, de fato faz o indivíduo perder a individualidade além da sanidade, tamanho o fascínio que o outro exerce sobre o demente apaixonado.

Mas a paixão é coisa de mulherzinha. No terceiro milênio "cada qual pega geral" e a palavra foi vulgarizada ao ponto de manter presença certa apenas nas composições clichês dos cantores mais 'dahora' -principalmente no pagode e sertanejo, onde a temática surpreendente das músicas permite uma verdadeira releitura dos sucessos e as novas canções apenas fazem uma troca de lugar de palavras. Já no século XIX, os autores românticos usavam a doença como metáfora. E as mulheres que se apaixonavam e viviam amores perfidiosos ou proibidos, logo ficavam doentes e morriam de uma doença do peito: de paixão, ou segundo os sintomas dados nas literaturas, morriam de tuberculose ou de tristeza. Morriam de amor, para parecerem ainda mais frágeis... Afinal, as mulheres sempre foram colocadas como o segundo sexo, e não podiam ficar sobre outro posto senão o de seres mais facilmente enleváveis.

A paixão sempre foi para mim uma epidemia da qual eu queria nunca precisar experimentar. Aos meus míseros nove anos, já distinguia bem homem e mulher e seus aspectos comportamentais dentro dos relacionamentos amorosos, mesmo nos desenhos animados. Pensava, tentando mentalizar uma oração para uma Deusa feminina: "Nossa, se todas as mulheres grandes se apaixonam, eu prefiro nunca crescer, porque parecem todas tolas, limitadas, cegas!"; e foi por isso também que eu chorei ao receber minha menarca, ao sair de um parque onde brincava de balanço com uns primos mais novos e ouvi minha mãe dizer o clássico "agora você já é uma mocinha". Depois disso, lembro que chorei por pelo menos quatro dias, enquanto a maldita se fazia presente ao meu corpo ainda infantil que relutava em ser algo qualquer que não um corpo de mulher.

Mas a paixão, antes que eu esqueça, é a maior representação do amor impossível. E porque é impossível se faz pertubadora, deixando insatisfeito o orgulho típico do ser humano, que luta para retomá-lo. Diferente do amor, a paixão é finita. Porque é também comum ao homem, prostrar o vigor e as esperanças frente a uma conquista. Logo se busca outra e a luta justifica o ardor já gasto.

Ao fim das contas, apaixona-se por pessoas belas. Aprendemos nos livros, pois, a
amar as feias e sofrer pelas criaturas divinizadas, por aquelas que o substantivo traduz: patior. Não damos 'patior' a pessoas feias, porque elas não merecem. Ou pelo menos é isso que o seu/ua amigo/a diz quando você pensa em sofrer: "Ah, mas ela não merece isso. Ela nem sequer é bonita." Viu só? Esse será o modelo Etnocêntrico, no qual vivemos sem perceber, buscando colocar no topo [do falo] os ditos poderosos por posse de beleza e bens monetários. E pouco importa se a figura se faz aceitável pelo que emana de sua aura: "Alô, mana! A gente se apaixona por uma imagem pré-concebida!". E é de príncipes encantados que estou falando. Não procuramos gente real para idealizar. Tenho dito...

Hoje é o Dia de São Valentim, dia do amor romântico e também uma das datas mais comerciais do mundo... Eu não podia deixar de fazer uma das minhas eventuais e irônicas verborragias. Viva ao amor e aos meus textos gigantescos! haha Bom dia! ;*





3 comentários:

  1. Adoro seus textos! O jeito como você escreve, meio desabafando. Parabéns :)

    http://ratinhaeleita.blogspot.com

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  2. Adorei, você tem uma forma de manifestar sentimentos unica.

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  3. Eu amo esses textos enormes, geralmente são um dos meus posts favoritos! Acho que é pelo estilo sincero e real que vc escreve.

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