Inspirações de um fim de tarde...

Ao montar as imagens para o post de hoje, a primeira coisa que me chamou a atenção foi um certo contraste entre o primeiro e o segundo plano. A grama, a minha roupa branca e o céu. Verdade que não me agradou a princípio o tom verde muito forte que se obtém ao fotografar a natureza tropical. Por essas bandas de cá, não tem como se chegar a alguma cor menos imponente. Mas eu esperava algo mais amarelado, mais neutro, algo que não se sobrepusesse as cores que pretendia mostrar frente ao fundo.

Acontece que eu esqueci imediatamente o verde quando notei quão belo estava o céu neste dia. Sobretudo pelos tons que podem ser vistos nas fotografias, eu lembrei das pinturas celestes de René Magritte, um dos meu surrealistas prediletos.

Eu adoro criar histórias para as minhas composições. E pensei muito sobre a revolução social enquanto notava o céu de Rio Branco estampado aqui, relacionando-o aos que Magritte pintava e dizia em protesto que não eram formas de fugas como o faziam outros pintores: era composto pela consciência, produzido e visto de uma perspectiva diferente, com uma idéia que pretendia ser realidade.

Os pressupostos surrealistas, enfim, me inspiraram hoje: 

“Transformar a vida em poesia, em um movimento de liberação total.”

"Tamanha é a crença na vida, no que a vida tem de mais precário, bem entendido, a vida real, que afinal esta crença se perde. O homem, esse sonhador definitivo, cada dia mais desgostoso com seu destino (...) se agarra a essa ilusão; só quer conhecer a facilidade momentânea, extrema, de todas as coisas. Todas as manhãs, crianças saem de casa sem inquietação. Está tudo perto, as piores condições materiais são excelentes. Os bosques são claros ou escuros, nunca se vai dormir."

A nossa realidade em Rio Branco ainda é mais quieta, eu diria. No entanto, eu tomo nota de um mundo, não da limitação de uma morada. O surrealismo era sobretudo um movimento humanista. "Mudar a vida! Transformar o mundo!”, ah, o pensamento de uma quase professora, utópica, jovem, inexperiente que sou, fará algo de diferença?!

“Que o ato de amor seja um ato poético em sua mais elevada inteireza. E que todo o ato humano seja um ato de amor. Manter elevada a esperança.”

"Imaginação querida, o que sobretudo amo em ti é não perdoares."

Trechos de Manifesto Surrealista.

(André Breton - 1924)

Imagem celeste: René Magritte

Fotos por Renáh Azevedo