Quantas tonalidades existem realmente no arco-íris? Quantas variedades de plantas, quantos planetas, quantas raças, tipos, culturas? Até onde somos diferentes uns dos outros e quanto somos entre os animais e plantas? Como conseguiríamos fazer uso das tecnologias atuais se todos os nossos dedos fossem do mesmo tamanho? E se fossemos todos idênticos? Como conseguimos viver em paz se sempre procuramos nos destacar dentre as massas e ainda assim fazemos acusações e pré-julgamentos contra as outras pessoas quando elas buscam essa diferenciação?
Bem, foi pensando nas diferenças que resolvi escrever hoje, após pouco tempo ter ministrado uma aula de redação no terceiro ano do ensino médio sobre dois temas: homofobia e redes sociais. Temas estes, que por mais atuais que pareçam, são ainda pouco abordados de forma reflexiva e que infelizmente tem fomentado discussões múltiplas de mais e mais preconceito.
Os seres humanos são viciados em auto-afirmação. Desde os períodos pré-históricos já era assim: o homem precisava caçar e assim como os outros animais, precisava defender seu território, apesar de ser o mais fraco em potencia física em relação as outras espécies. Entretanto, os bípedes daquela época, hoje nomeados homens, evoluíram de acordo com sua capacidade mental e assim dominaram a natureza, escravizando-a. Livre das necessidades primitivas de sobrevivência, o homo sapiens continua em uma vantagem intelectual que o eleva ao nível máximo de prepotência, em busca de uma aceitação que hoje não é coletiva, mas sim individual; e explorando aquilo que ele pouco compreende da forma mais caótica, aquilo de onde ele surgiu.
Explico: durante toda a historia da humanidade, a luta de egos, a ostentação de poder, a inflação de sentidos, as buscas por sonhos utópicos e a negação ao indeciso/ao que fugia da compreensão humana foram os impulsores mais perversos e fatídicos.
Na verdade, parece-me que a contradição humana é mais recorrente do que o seu tão ensejado racionalismo. Se observarmos as histórias de todas as culturas ou mesmo o mundo num todo diacronicamente, podemos perceber o quanto o passado foi construído de falácias e aviltramentos, de filosofias construídas de olhos fechados, de políticas centradas a visão do próprio umbigo de quem as prescrevia e ditava.
Não obstante, o subconsciente humano ainda carrega uma parcela muito grande de uma história que não foi construída hoje, mas que reflete na atualidade através do cumprimento da cultura, dos valores sociais e morais.
O Brasil, em especial, um país novo e imaturo quando comparado aos países europeus, vive em um momento que eu mesma não consigo compreender, sobre identidades e formação cultural –isso sem falar de educação e política, mas dos valores presos a psique dos seres que são todos dotados de culturas múltiplas.
Mesmo na segunda década do terceiro milênio, o próprio argumento das brasilidades (das culturas hibridas) e o conceito de modernidade são promotores de uma grande problemática que muitas vezes passa despercebida. Há uma crise não estancada no que diz respeito as identidades: há a memória fraturada de um povo descendente dos próprios colonizadores de um país que foi escrito por outrem e tem no próprio inconsciente coletivo o pensamento de povo colonizado, dependente, que busca referencias externas (na maior parte das vezes no próprio colonizador) para só então se afirmar.
A própria falácia do “descobrimento do Brasil” mantém ainda hoje o espírito objetal do país que, foi anulado ao 22 de abril de 1500, e surgido ao mesmo dia, renomeado e reconstruído para uma historia de massacres seculares –principalmente de um povo nativo que indubitavelmente seria seu maior tesouro local.
A partir disso, o significado pré-requisito da cultura, perde seu sentido, quando esquecemos que somos reproduções, e que por nada que nos saliente os sentidos, paramos para fazer uso do pensamento reflexivo, se antes, não observamos o passado daquilo que nos forma, que nos complementa as identidades. Assim, a complexidade do descobrimento desses sujeitos –eu, tu, nós, brasileiros- se pauta na própria crise identitária –sobre a qual eu rememoro o poema de Mário de Sá Carneiro: “eu não sou eu, nem sou o outro, sou o intermédio.”
Desse modo, eu não consigo falar de Brasil e modernidade na mesma frase, ou de Igualdade e diferenças, sem recordar que mesmo com um passado rico de ensinamentos que poderiam construir na população uma postura mais ereta de respeito e afetividade, somos esse povo por partes aculturado, que leva estereótipos aonde for, de moradores do paraíso tropical, estampando o intermédio, (o tédio disso), sem sequer tomarmos consciência das diferenças existentes entre as mais infindáveis diversidades existentes dentro de nós.
E onde entra a globalização? A rapidez de informações, as facilidades locomotivas, as tecnologias massificadas, as teorias pós-coloniais?
Sequer eu pretendia falar um tanto assim, aprofundando-me na história que não é novidade para ninguém, mas que não se desprende do que somos. Porém, as vezes um grito ao vento como esse pode valer a pena a minha consciência de saber que bradei de alguma forma a minha inconformidade com os julgamentos mal fundamentados alheios.
O meu papel, certamente, como blogueira, professora, e mesmo como arquiteta, é de opinar e interagir com o outro, expondo pontos de vista que, ao meu ver, deviam ser senão apreendidos, refletidos. E quanto a diversidade, é sobre ela que trata o termo
Trashion ao qual me refiro diariamente neste espaço. Não que a moda não haja, mas ela mesma se apropria daquilo que antes nega e recrimina. Por isso muitas vezes, parece contradizer-se –e o faz!
É preciso notar que para cada dedo diferente que temos, há um indivíduo ao nosso lado que deveria, socialmente falando, predispor de uma liberdade de SER, independente de qualquer coloração e formatação visual expoente. O problema é que todos somos essa negação ao não compreensível, ao que não se vê razão, ao que parece agir como o vento; translúcido...
Clara, em 27/10/11.