Ao longo desses anos, passei por momentos de dificuldades as vezes comuns para imigrantes. Entre crises de identidade, solidão, desilusão e problemas financeiros, eu já quis desistir, já empaquei, já pensei em mudar de área profissional e enfim, essas coisas que acontecem quando não temos o preparo e a força psicológica suficiente para encarar a vida sozinha em um país tão diferente (mas isso é assunto para outro post, talvez).
Lembro-me que lá no inicio do curso, uma amiga me falou de um estagio que estava fazendo em um museu e me convidou para ir conhecer o espaço. Ela disse que se eu quisesse, poderia me candidatar também ao mesmo cargo e que ela me ajudaria. Mas eu achei tudo aquilo enorme e não consegui naquele momento me imaginar fazendo aquele trabalho. Sentia que não falava italiano bem o suficiente e deixei a ideia numa caixinha, bem guardada, mas com um certo peso por não ter aceitado a ajuda oferecida.
Triennale Milano. Fonte: Google |
Mas em Novembro do ano passado, numa das incontáveis vezes que a Itália fechou tudo em um lock down por causa do corona vírus, eu já não aguentava mais ficar em casa e comecei a pensar no que poderia fazer para mudar a situação. Foi visitando museus online (uma das coisas boas que podia fazer estando em lock down), que encontrei a oportunidade de candidatar-me a uma experiência de três meses como mediadora cultural em um dos edifícios mais importantes da Itália. A resposta veio meses depois, quando finalmente os museus puderam ser abertos ao publico e no final de Abril eu já estava em treinamento.
Depois de tantos anos me direcionando ao estudo de arte de diversos modos, sempre encantada por arquitetura, design e todo tipo de expressão que possa tocar gentilmente ou acolher o indivíduo, finalmente viver uma experiência em que eu poderia ensinar, recepcionar, ajudar e guiar o publico de um lugar expositivo, parecia um sonho realizado.
O meu papel era exatamente esse: recepcionar e guiar os visitadores que entravam nas mostras, podendo também fazer visitas guiadas com tema estudado e preparado por mim, em diversas línguas.
Além de interagir diretamente com o publico, eu e meus colegas de trabalho também éramos responsáveis por preparar as mostras e mantê-las a salvo, organizadas a medida do possível durante a jornada, sempre em contato direto com a direção para o que fosse necessário.
A Trienal de Milão, sediada no Palazzo dell'Arte, é uma instituição cultural internacional que produz exposições, conferências e eventos sobre arte, design, arquitetura, moda, cinema, comunicação e sociedade. Organiza mostras de grande visibilidade e atenção como as dedicadas à arte contemporânea, aos arquitectos e designers de fama nacional e internacional, aos grandes estilistas que mudaram os gostos e costumes, às questões sociais. A Triennale di Milano está localizada no Parco Sempione em Milão, na Lombardia, no norte da Itália.
Desde 2007, abriga o Triennale Design Museum. Desde 2011 acolhe o Teatro dell'Arte, um dos mais significativos da cena milanesa, uma nova referência para projetos culturais e artes performativas.
Já no ingresso do museu, podemos ver caráteres de modernidade e a irreverência do ambiente. Perto do grande T (que é inclusive um dos apelidos do museu), posa cheia de atitude a escultura de Corrado Levi, que é nada menos que um piercing de parede.
A "obra" que na verdade não foi pensada para ser permanente no museu, fazia parte de uma exposição chamada "Tra gli spazi", ou Entre Espaços, curada por Joseph Grima e Damiano Gullì, que interviu em diversos pontos do edifício com suas peças de arte e foi mantida, dando sempre a ideia de que o edifício é um corpo.
Para quem não sabe, eu tenho diversos piercings e claro que me identifiquei com esse detalhe. Pensar o edificio de um museu como um corpo é pensa-lo como um ambiente que absorve, deglute, digere o que entra, mas também exprime, expressa, pensa e fala através de cada detalhe.
Mas apesar da irreverencia das mostras atuais e de todo o corpo laborativo do local ser caracterizado pela jovialidade e inclusão, o edifício histórico carrega uma estrutura literalmente projetada pelo movimento fascista e racionalista que tinha como premissa a exposição de obras do mesmo caráter. Com linhas bem definidas e obras de arte que dialogavam diretamente com o movimento racionalista do museu que está alojado no Palazzo dell'Arte, desenhado por Giovanni Muzio e construído entre 1931 e 1933.
Estatua de Mario Sironi no Palácio das Artes. Foto: Google |
O Museu do Design Italiano é a mostra permanente do edificio e apresenta uma seleção das peças mais icônicas e representativas do design italiano de 1946 a 1981, parte dos 1.600 objetos da Coleção Permanente de Design Italiano da Trienal de Milão, organizada em ordem cronológica e acompanhada por um rico conjunto de textos e reflexões sobre a poética e o contexto em que as obras foram concebidas.
Museo del Design Italiano. Triennale. Fotos autorais feitas com celular. |
Outros ambientes hospedam durante todo o ano, mostras temporárias que geralmente duram cerca de três meses. Além desses espaços que podem somar um total de sete mostras contemporaneamente, o prédio possui um café ao interno com vista para o parque, um teatro, uma biblioteca, uma loja de souvenir, um restaurante no terraço, e um bar a céu aberto, localizado no grande jardim que também apresenta obras permanentes, deixadas por exposições anteriores, como os banhistas de De Chirico, 1973, na ocasião da 15ª Trienal de Milão.
Jardim da Trienal. Obra Os Banhistas de De Chirico. Fonte: Instagram @triennale |
A entrada no Palácio das Artes é gratuita, mas para acessar as mostras, seja a permanente ou as temporárias, é preciso adquirir o ingresso, que varia de oito a quatorze euros. Entrando gratuitamente, é possível visitar o jardim, a lojinha, o café e o restaurante.
Durante o meu período de estagio ali, tive a oportunidade de conhecer cada parte do museu e compreender melhor sobre gestão, a organização, o funcionamento e a missão das exposições para os cidadãos e turistas que ali passam diariamente.
Vivenciar uma Milão histórica, rica de experiências e tradições que quer dialogar sobre assuntos atuais, abrindo espaço para intervenções de artistas super contemporâneos foi estupendo. Poder estar em contato com o publico e em especial com colegas de trabalho tão jovens e inteligentes foi engrandecedor.
Pelos próximos posts quero falar um pouco sobre cada mostra em que eu trabalhei ao longo desses três meses e que tendo em vista que algumas já deram espaço para novas exposições e outras em breve cederão posto, acho que vai ser interessante deixar aqui registrado um pouco do que podia ser visitado, detalhando com fotos que fiz durante as semanas.
Espero que vocês gostem desse tema e de conhecer melhor os lugares que eu posso mostrar.
Um beijo e até os próximos posts!
Aí, adorei esse post!
ResponderExcluirTo aqui tentando esse estágio mas tá difícil eles responderem um e-mail meu. Mas.. Continuarei tentando.
Espero que voce consiga em breve o estagio, Gui. A experiencia vale a pena apersar de ser bem cansativa as vezes, principalmente por termos que aliar os estudos e as horas de trabalho. Mas é enriquecedor!
ExcluirGente adorei!
ResponderExcluirTo ai tentando esse estágio que ainda nem responderam. Meu e-mail.
Gente adorei!
ResponderExcluirTo ai tentando esse estágio que ainda nem responderam. Meu e-mail.