La vem ele... 4 de novembro. Parece que me viro um pouco mais para dentro a cada vez que essa data se aproxima. Já são 35 anos e eu creio estar me acostumando com o fato de que o tempo realmente passa rapido. Eu poderia dizer mais uma vez que não o vi passar. Mas na verdade, eu quero superar essa frase.
Quando era mais nova, pensava que a esta altura eu estaria não so mais madura, mas mais confiante, completa, com uma personalidade fortalecida e uma conta bancaria avantajada. Hoje em dia olho para aquela pequena Clara com sonhos e potencial e penso: cara, querida, voce se surpreenderá como alguns desses desejos perderão valor e quantas vezes precisarei te revisitar para conseguir avançar e alcançar parte do que voce imagina ser tangível apenas com uns anos a mais de vida.
Acho que estou no caminho de obter o que a Clarinha do passado imaginava. Mas serei diferente daquelas ideias, porque não serei uma mini-copia de minha mae e nem sequer uma total desconhecida -era como eu via essa Clara-adulta, tao distante e séria.
O caminho não tem sido apenas flores, principalmente porque nos últimos anos eu precisei encarar muita solidão, mas de um modo intrigante, a Clarinha sempre sonhou com esse isolamento e conseguiu, mesmo sem compreender o motivo pelo qual ensejava tanto silencio e ausências, obter esse distanciamento geografico do ninho da mamãe.
Ha exatos 9 anos e 2 meses eu sai do Brasil. Conheci naquele primeiro ano, 3 países da Europa e me encantei, me encontrei, me perdi e também me surpreendi por não me preencher com tantas coisas belas. Por todos os anos quis voltar ao meu lugar natal, achando que o problema era o territorio. Mas a cada vez que voltei, não me encaixei de novo -nem antes encaixava- e doía admitir para mim que aqui, essas terras distantes, parecem mais comigo.
Aos 35 eu acho que estou finalmente conseguindo juntar algumas pecas do meu proprio quebra-cabeças. Eu pensava muito quando criança e percebia fazer associações que não faziam sentido para mais ninguém. So agora sei que faziam sentido. Era minha forma inconsciente de fazer associação livre. Um termo que Freud cunhou e que Jung utilizou depois para desenvolver suas teorias que me são cada vez mais reveladoras.
Aos 35 estou finalmente casada. E não è com um tatuado, um artista ou um filosofo como imaginei. Tenho um gato e não moro em uma casa com roseiras no jardim. Moro em um apartamento que tem um escritório grande todo para mim, um closet e mais outros ambientes amplos e claros, como creio que minha criança aprovaria. Até o fato de ser no alto -4 andar- me parece um alivio. Não tem risco de invasão, como nos meus pesadelos infantis!
Então no dia dos 35 completos, eu estarei viajando pela America Latina e morando no quarto pais nesse não curto caminho de vida. Os estudos foram colocados na gaveta, mas os processos de escrita se intensificaram. Os amigos do passado finalmente foram desmascarados e agora mantenho poucos contatos, mas com pessoas que quando encontro, servem como um tipo de terapia, de alivio para a mente, inspiração, reencontro com minha propria voz e um aconchego para os ouvidos e coração.
Estou, acho, me lapidando aos poucos. Mas eu poderia dizer escrevendo, arquitetando, projetando, dirigindo... aos poucos. Tudo acontece nessa solidão que não engole, mas preenche e me ajuda a descobrir sobre mim nas poucas interações que tenho com os outros e nas longas horas de reflexão sobre sonhos e inconsciente. Interpretar a mim mesma tem sido um desafio, pois envolve um embate de ego, com amor e odio.
Sinceramente, acho que posso dizer que tenho me sentido melhor do que nos últimos anos. Pelo menos desde 2019, pois aquele foi um ano de muita dor e provação e foi seguido por pandemia e depressões. Finalmente aquele peso de viver esta me deixando, pois tenho encontrado aos poucos minha propria alma, minha personalidade e dado voz a minhas próprias vontades.
Festejarei este aniversario com mais tranquilidade e talvez pela primeira vez sem expectativa de alardes, surpresas, festas imensas. O meu 4 de novembro sempre foi extremamente valorizado por mim e eu teria gostado que tivesse sido para os outros, como minha mae fez parecer nas minhas festas temáticas da infância. Mas aos poucos essas comemorações deveriam ter começado a ser transformadas em uma alegria interna por ter vivido mais um ano com saúde, sem a necessidade de bolo e cantarolagem. Isso para não me frustrar com os parabéns que as vezes não vinham ou com os presentes sem alma que recebi ao longo dos anos.
Creio que finalmente sera o primeiro aniversario em que a festa e o presente mais importantes acontecerão, pois as expectativas frustradas de antes eram apenas sinal de que faltava presença. E este ano eu poderei entregar a mim mesma este detalhe fundamental. Estarei la, comigo, mais integra que nunca. Levando comigo cada um dos meus 35 anos dos quais me lembro com detalhe.
Daqui em diante, so adiante e de mãos dadas comigo.
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