20 de out. de 2025

Uma sombra

Nunca fui uma pessoa corajosa. Pelo contrario: basta me ver pessoalmente e voce rapidamente chegara a conclusão de que é evidente que tenho medo de pessoas. Essa característica sempre me acompanhou, mas eu não me aprofundarei agora nas raízes desse drama.

Curioso é lembrar que coisas como filmes de terror, festas temáticas, palhaços e bruxas que costumavam assustar as crianças não me assustassem. Eu tinha medo de gente! Na infância, um tio me causava pavor pelo seu aspecto mal curado e se aproveitava disso para me fazer chorar. Ele corria atras de mim dizendo "eu sou o bicho" e fazia sons de animal desgovernado. Um certo ano, me deu de presente de aniversario o boneco do Chuck (personagem de filme de terror da minha época), mas acreditem: eu gostava do boneco, mas temia o tal do remetente.

Talvez eu soubesse que os objetos são passivos e as pessoas passiveis. No fundo, eu compreendia que os objetos são manipuláveis, as fantasias vestíveis, os filmes são tendenciosos e irreais, mas as pessoas... essas sim, são imprevisíveis!

Ainda tenho medo de gente e estou prestes a chegar na metade dos 30 e poucos. As pessoas continuam sendo incompreensíveis, ainda mais depois de passar por tantos países e perceber sempre mais que a cultura se entrelaça ao caráter e às atitudes de forma cardinal. é preciso conhecer de modo profundo essas raízes para saber o que prever de um individio. Pode ser por isso e pela vontade de vencer essa sombra que se funde em mim no contrato com o outro, que nos últimos anos fiz cursos de tipos físicos, psicanalise, sintomologia, temperamentos... e sempre mais tento entender também, meu proprio funcionamento.

Acho interessante notar como cada ser animado tem gatilhos e sombras quase nítidos aos olhos de um espectador atento, mas as vezes o proprio agente passa anos sem se dar conta desses condicionamentos. 

Eu gosto de escrever sobre meus medos e vivencias desde que me entendo por gente. Isso me permite hoje reler o meu passado e ver de modo mais claro os nódulos nas minhas relações. Encurvar-me para escrever em meus diários sempre foi meu hiper-focus e também foi através desse habito que descobri (ou desenvolvi)  uma grave escoliose, dores nas mãos que me seguem desde a adolescência, ombros tesos e hipo-sensibilidade muscular. Quer dizer, essa pratica de virar-me para dentro também é um modo de me me conhecer, mas também de me distanciar das pessoas. Paradoxalmente, me conheço mais e conheço menos o "outro". Tento me curar da minha fuga e fujo, criando outros sintomas.

De qualquer modo, a intenção do texto de hoje era falar sobre o ato de olhar para as próprias dificuldades. Eu, ao longo dos anos, não sabia exatamente que as pessoas me assustavam tanto. Não compreendia porque o olhar nos olhos e o interesse pelas noticias de jornal e cultura popular fossem tão necessários para a "sobrevivência" em sociedade. Eu não me interessava minimamente em participar, compartilhar e levar para frente certas coisas que não tivessem origem em mim mesma. Eu queria ser "eu", mas o ego precisa do contato para existir e se fortalecer.

Era (é) a minha sombra. Um hipotético autismo, refutado por psiquiatras que julgam ser, o meu, um jeito de ser formado por um trauma profundo. Um jeito de ser muito introvertido e emotivo, profundo e intenso, justificado também, pela astrologia. Mas faz parte de mim. Independente de quem e de qual diagnostico chegue. O que importa é que, uma vez reconhecido -podemos viver sem títulos diagnósticos-, talvez eu possa manipular aos poucos esse complexo para me sentir mais integra e respeitada.



17 de out. de 2025

lista de desejos - edição de aniversario

Não pude resistir a fazer mais uma lista de ideias do que eu gostaria de ganhar nesse ano. Fazer WishLists e publica-las para inspirar os meus leitores sempre foi uma atividade comum aqui nesse blog. E mesmo que agora o blog tenha tomado um cunho mais pessoal, de arquivo, do que publico, continuo querendo criar esses quadros e publicar essas ideias (dessa vez com segundas intenções. Quem sabe meu marido se inspira?! haha).

Esse ano, eu reduzi substancialmente minha lista, em confronto ao quadro de maio de 2024. Tendo em vista que neste ano, eu já estarei viajando na data do meu aniversario, achei que o budget poderia ser bem menor e so' inclui coisas que considero uteis (com exceção da bolsa, que eu não preciso exatamente, mas desejo e namoro ha uns 4 anos, desde que foi lançada). Abaixo do quadro, como sempre, estão os links para cada item.


Bota de cano alto preta. Tamanho 38 Europeu. Link aqui!
Mascara de Led para regivenecimento facial. Link aqui ou aqui!
Bolsa preta de couro em modelo retro da marca inglesa Cambridge Satchel. Aqui!

Reflexão - o aniversario que se aproxima

 


La vem ele... 4 de novembro. Parece que me viro um pouco mais para dentro a cada vez que essa data se aproxima. Já são 35 anos e eu creio estar me acostumando com o fato de que o tempo realmente passa rapido. Eu poderia dizer mais uma vez que não o vi passar. Mas na verdade, eu quero superar essa frase. 

Quando era mais nova, pensava que a esta altura eu estaria não so mais madura, mas mais confiante, completa, com uma personalidade fortalecida e uma conta bancaria avantajada. Hoje em dia olho para aquela pequena Clara com sonhos e potencial e penso: cara, querida, voce se surpreenderá como alguns desses desejos perderão valor e quantas vezes precisarei te revisitar para conseguir avançar e alcançar parte do que voce imagina ser tangível apenas com uns anos a mais de vida.

Acho que estou no caminho de obter o que a Clarinha do passado imaginava. Mas serei diferente daquelas ideias, porque não serei uma mini-copia de minha mae e nem sequer uma total desconhecida -era como eu via essa Clara-adulta, tao distante e séria. 

O caminho não tem sido apenas flores, principalmente porque nos últimos anos eu precisei encarar muita solidão, mas de um modo intrigante, a Clarinha sempre sonhou com esse isolamento e conseguiu, mesmo sem compreender o motivo pelo qual ensejava tanto silencio e ausências, obter esse distanciamento geografico do ninho da mamãe.

Ha exatos 9 anos e 2 meses eu sai do Brasil. Conheci naquele primeiro ano, 3 países da Europa e me encantei, me encontrei, me perdi e também me surpreendi por não me preencher com tantas coisas belas. Por todos os anos quis voltar ao meu lugar natal, achando que o problema era o territorio. Mas a cada vez que voltei, não me encaixei de novo -nem antes encaixava- e doía admitir para mim que aqui, essas terras distantes, parecem mais comigo.

Aos 35 eu acho que estou finalmente conseguindo juntar algumas pecas do meu proprio quebra-cabeças. Eu pensava muito quando criança e percebia fazer associações que não faziam sentido para mais ninguém. So agora sei que faziam sentido. Era minha forma inconsciente de fazer associação livre. Um termo que Freud cunhou e que Jung utilizou depois para desenvolver suas teorias que me são cada vez mais reveladoras.

Aos 35 estou finalmente casada. E não è com um tatuado, um artista ou um filosofo como imaginei. Tenho um gato e não moro em uma casa com roseiras no jardim. Moro em um apartamento que tem um escritório grande todo para mim, um closet e mais outros ambientes amplos e claros, como creio que minha criança aprovaria. Até o fato de ser no alto -4 andar- me parece um alivio. Não tem risco de invasão, como nos meus pesadelos infantis!

Então no dia dos 35 completos, eu estarei viajando pela America Latina e morando no quarto pais nesse não curto caminho de vida. Os estudos foram colocados na gaveta, mas os processos de escrita se intensificaram. Os amigos do passado finalmente foram desmascarados e agora mantenho poucos contatos, mas com pessoas que quando encontro, servem como um tipo de terapia, de alivio para a mente, inspiração, reencontro com minha propria voz e um aconchego para os ouvidos e coração.

Estou, acho, me lapidando aos poucos. Mas eu poderia dizer escrevendo, arquitetando, projetando, dirigindo... aos poucos. Tudo acontece nessa solidão que não engole, mas preenche e me ajuda a descobrir sobre mim nas poucas interações que tenho com os outros e nas longas horas de reflexão sobre sonhos e inconsciente. Interpretar a mim mesma tem sido um desafio, pois envolve um embate de ego, com amor e odio.

Sinceramente, acho que posso dizer que tenho me sentido melhor do que nos últimos anos. Pelo menos desde 2019, pois aquele foi um ano de muita dor e provação e foi seguido por pandemia e depressões. Finalmente aquele peso de viver esta me deixando, pois tenho encontrado aos poucos minha propria alma, minha personalidade e dado voz a minhas próprias vontades.

Festejarei este aniversario com mais tranquilidade e talvez pela primeira vez sem expectativa de alardes, surpresas, festas imensas. O meu 4 de novembro sempre foi extremamente valorizado por mim e eu teria gostado que tivesse sido para os outros, como minha mae fez parecer nas minhas festas temáticas da infância. Mas aos poucos essas comemorações deveriam ter começado a ser transformadas em uma alegria interna por ter vivido mais um ano com saúde, sem a necessidade de bolo e cantarolagem. Isso para não me frustrar com os parabéns que as vezes não vinham ou com os presentes sem alma que recebi ao longo dos anos.

Creio que finalmente sera o primeiro aniversario em que a festa e o presente mais importantes acontecerão, pois as expectativas frustradas de antes eram apenas sinal de que faltava presença. E este ano eu poderei entregar a mim mesma este detalhe fundamental. Estarei la, comigo, mais integra que nunca. Levando comigo cada um dos meus 35 anos dos quais me lembro com detalhe. 

Daqui em diante, so adiante e de mãos dadas comigo.