27 de out. de 2010

Trash, um olhar crítico sobre a moda.


bicuda

Eu não sei cortar tecido, costuro o básico e não evoluo essa habilidade desde os oito anos, quando comecei a tentar usar a prática manual após perder feio para a máquina de costuras; nunca tive aulas de desenho, e o que aprendi de forma empírica talvez não seja sequer mediano frente a amadores. Enfim, só sei nomes de materiais básicos, e os que não fazem parte do meu limitado conhecimento, costumo apenas considerar como variantes de um mesmo tipo material composto por tramas que podem variar em texturas e tonalidades.

A complicação que há dentro do tecnicismo da moda, para mim é a questão de estar atuando no ramo, e portanto, por isso surgem as necessidades terminológicas e fonéticas. Porém, o viés da roupa-material que me instiga é aquele que reclama uma história que eu possa decifrar curtindo os detalhes, e integrando-os a mim.

E sim, acho que posso falar de moda aplicando múltiplas referências que vêm a ser inclusive, formadoras de uma certa segurança ao vestir tal peça. É como se, sabendo um pouco mais sobre a procedência do objeto, miscigenássemos ao mesmo, seguros de uma personalidade dual e conjugada, a exaltação e imponência do belo.

Eis então um bom começo para o meu monólogo sobre o diálogo entre a moda e o conceito desta.
Em primeiro lugar, a roupa deve falar com você. Bem como quando adotamos animais para a estimação, ela deve caber em seu corpo tanto quanto na sua certeza de estar ali conscientemente. Ela deve querer participar de uma história sua, diária, passageira, mas original. O direito legítimo de usar uma peça que se comunique com sua personalidade é soberano.

Não sou comentarista profissional de moda, nem fiz cursos de extensão que me promovessem um posto superior ao de quem lê com freqüência o meu blog. Na verdade, tenho um passado totalmente aliado a anti-modismos e vanguarda, influenciados pelo meu gosto por rock, estudos feministas e pagões. Então, recente a padronização daquilo que uso sobre uma moda que só agora lembra que deve ser anárquica, a costura se aproxima do processo democrático de culturas, onde as referências se fazem a movimentos de revolta sobre um passado que requer releituras.

Talvez eu não seja a melhor comentarista de moda, visto que escrevo Sobre o produto quando de fato, há o diálogo entre nossas realidades. E então, o meu ideal visual é sempre aquilo que não segue o habitual, pois o pastiche desgasta a individualidade e nos rotula de forma tal, que até nós mesmos pensamos que não temos estilo próprio, por um medo imposto por uma psicologia social hipócrita.

Deixem que eu fale assim... é como se a gente se vestisse para os outros, e não de acordo com o que somos e devemos refletir desde o íntimo. As personalidades se confundem dentro de rótulos de marcas, e aqui em Rio Branco, muitas vezes pagar de outdoor ambulante para a Ellus vale mais do que assumir o gosto pelo brechó [leia-se formigão] que todo mundo vai, se escondendo por detrás das montanhas de jeans barato.

Ainda quem admite que compra lá, se considera do tipo não estou aí para a modinha. Mas isso de fato possui sentido? Não para mim. A moda hoje é inspirada pelo estilo que se vê nas ruas. A própria Bienal do SPFW grafitou a fachada do evento, e isso não quer dizer que é tendência ser pichador. A questão é que a crítica de moda, para mim, se faz de forma conscientizadora acerca de valores culturais e ambientais, e não por questões econômicas ou de uma estética padronizada. Para a quem entender assim, digo apenas que nunca se fará de forma real um padrão estético absoluto. Portanto nunca será lídima a crítica sobre o objeto.

A idolatrada Coco Channel já ousou dizer que a Moda é como arquitetura; uma questão de proporções. Mas, senhores, dentre as próprias habilidades humanas, possuímos distinções de acordo com gêneros, que nos capacitam, destarte, concepções distintas sobre os fenômenos físicos, geométricos e conceituais. Como, queridos leitores(?), limitar o gosto de uma pessoa que por si, já é única?