Anos 20: a mulher em ascendência

Em busca de um chapéu ideal, encontrei na loja loja “7 Estrelas”, na Avenida Ceará, em Rio Branco, o modelo que me fez fremir frente a sua beleza. Cheguei a loja com um laço na cabeça e a pretenção de adquirir um chapéu Panamá de abas grandes, como o do nosso conhecido Santos Dumont (acima as fotos concernentes). 

Porém, um chapéu pequeno, de abas singelas e modelagem discreta me foi apresentado. Era um "Cloche" moderno. E remeteu imediatamente aos meus estudos sobre a década de 20, quando nascia uma nova idéia revolucionária na moda e as mulheres redescobriam sua sexualidade e puderam expressar através de suas roupas a próspera liberdade que animava o novo estilo moderno. 

Como sou uma grande admiradora de história, principalmente por aquilo que se trata das relações de gênero, religião e expressão, senti que seria muito interessante falar aqui o pouco que sei sobre essa nova atitude feminina. 

As meelindrosas viveram na era do Jazz, e livres dos espartilhos, usados até o final do século 19, podiam agora mostrar o colo e os tornozelos. Elas podiam frequentar salões, usar maquiagem, e usar roupas mais curtas. A boca era carmim, os olhos eram bem marcados, as sobrancelhas tiradas e delineadas a lápis; a pele era branca, o que acentuava os tons escuros da maquilagem. 

A silhueta dos anos 20 era tubular, com os vestidos mais curtos e leves geralmente em seda, deixando braços e costas à mostra. O chapéu, até então acessório obrigatório, ficou restrito ao uso diurno. O modelo mais popular era o "cloche", enterrado até os olhos, que só podia ser usado com os cabelos curtíssimos –o que, no meu caso, é impossível, pois meus cabelos são intocáveis, haha. 

Uma curiosidade marcante, é que naquela época, o esteriótipo de beleza, é bem similar aquilo que me agrada: A mulher sensual era aquela sem curvas, seios e quadris pequenos. A atenção estava toda voltada aos tornozelos. Como todos sabem, a maior precursora dessa década foi da estilista Coco Chanel, com seus cortes retos, capas, blazers, cardigãs, colares compridos, boinas e cabelos curtos. E mesmo depois de tanto tempo, suas idéias são clássicos incontestáveis. 

Essa década também traz o estilo art-décor na arte construtivista preocupada com a funcionalidade, além de lançamentos literários inovadores. É o momento também da Semana de Arte Moderna no Brasil, em 1922, grande acontecimento cultural do período. Surgiram também em Paris o estilo Surrealistas (Entre os artistas estavam Joan Miró e Pablo Picasso).
Foi a era das inovações tecnológicas, da eletricidade, da modernização das fábricas, do rádio e do início do cinema falado, que criaram, principalmente nos Estados Unidos, o clima de prosperidade, constituindo o chamado "american way of life" (o estilo de vida americano). 

Enfim, quem gosta de história deve entender que tudo está relacionado, e sempre há muito o que aprender e discutir sobre o passado. Eu, particularmente, não consigo falar sobre décadas passadas sem pensar em mil articulações e descobertas fascinantes. Por isso, o post que devia dizer apenas sobre o chapéu puro feltro, cor de azeviche, se tornou tão extenso, ainda que incompleto. 

Espero que eu não tenha tornado sua leitura tediosa. Abaixo, as fotos que seguem: minha amiga Bruna e eu experimentando chapéus de modelos mais modernos e o belíssimo "cloche" que me inspirou para o post de hoje;

Um Cloche para a minha vida...