26 de fev. de 2009

Chi kun, a arte de fortalecer a energia

O Chi Kun (também chamado de Qi Gong) foi criado há mais de três mil anos e está na base das artes marciais chinesas. Antes de praticá-las, os antigos mestres da China ensinavam seus discípulos a fortalecer sua energia com os exercícios de Chi Kun, para depois modulá-la nos golpes e movimentos corporais de cada arte marcial. O raciocínio é simples: antes de empregar a força vital, é preciso torná-la forte e equilibrada. Essa regrinha de ouro foi muitas vezes esquecida pelas artes marciais que chegaram ao Ocidente. Mas o que poderia ser prejudicial ao Chi Kun, acabou o beneficiando. A técnica passou a ser ensinada como arte autônoma em muitos países. Tanto na China de hoje quanto no Ocidente, o Chi Kun ganhou espaço e influência.

E o que é o Chi Kun? Basicamente é um trabalho (gong, em chinês) sobre a energia (chi ou qi) que circula pelo corpo. Em outras palavras, é como cultivar de forma integrada a energia corporal (jing), a energia mais sutil (chi) e a energia espiritual (shen). E para isso o Chi Kun se utiliza não só de exercícios físicos suaves como também usa recursos extras inesperados, como a força da visualização, dos sons e das cores, entre outros. “O Chi, a energia vital, pode ser conduzido por meio das imagens que temos em nosso pensamento. Por isso as utilizamos nos exercícios de Chi Kun”, diz mestre Cai (pronuncia-se Tsai) Wen Yu, que há sete anos ensina Chi Kun nos parques de São Paulo, Rio e Campinas.

Existem mais de seis mil métodos de Chi Kun e, por isso, podem existir muitas diferenças entre os exercícios ensinados por cada mestre. Uns empregam a visualização em níveis mais adiantados, outros logo no começo. Mas em essência, ele serve para desbloquear a energia sutil, fortalecer o espírito e a autoconfiança e, por último, dissolver problemas emocionais

Para cada órgão, uma cor
Para entender como funciona o Chi Kun, é preciso conhecer os princípios da medicina tradicional chinesa. De acordo com ela, cada órgão vital do corpo pode ser estimulado por seus tons e cores correspondentes. O figado por exemplo, é o órgão que aciona a raiva. Sua cor é o verde, que ajuda a equilíbrá-lo. “É por isso que todo mundo se acalma ao olhar um campo verdejante ou quando mergulha o olhar por entre as folhas das árvores”. Já o som que tranqüiliza o fígado é o fuuuuuu, que simula o ruído aspirado que a gente faz ao assoprar uma vela. Com esse som, e a postura apropriada, podemos acalmar o calor da raiva’, diz o mestre Cao Yin Ming (pronuncia-se Tsao), do Instituto Brasileiro de Acupuntura e Chi Kung Brasil-China, de São Paulo.

“O Chi Kun nos dá vários instrumentos para desbloquear a energia, vitalizar órgãos e num estágio mais avançado, realizar uma completa transmutação energética, num processo de alquimia interna chinesa” diz Patricia Aguirre, instrutora do método Healing Tao, criado pelo mestre coreano Mantak Shia. Ele esteve em contato com as mais variadas linhagens chinesa de Chi Kun e, posteriormente, desenvolveu sua própria metodologia, que faz grande sucesso no Ocidente. Dentro dos níveis iniciais do Healing Tao também se ensina o uso da energia sexual para a transmutação energética, numa técnica chamada de Healing Love. A terapeuta Ely Britto, que trouxe o método de Mantak Chia para o Brasil, diz. “O Healing Love é apenas um nível de prática básico, nosso jardim de infância. Seu objetivo é nos ensinar a poupar e a recuperar a energia perdida. Mas a verdadeira alquimia interna chinesa, ensinada em estágios mais avançados, se inicia com a Fusão dos Cinco Elementos, que produz uma energia refinada, utilizada para nosso desenvolvimento espiritual” conta Ely. “No Chi Kun comum se procura equilibrar as energias do corpo e a vitalidade mas na alquimia interna, a sua forma mais avançada, a intenção é a produção dessa força interna mais sutil”.

“O Chi Kun é muito interessante porque nos devolve a responsabilidade pela nossa própria saúde. Ele nos dá todas as práticas necessárias para o seu reestabelecimento – o resto é conosco”, diz Luciana de Cravalho, instrutora de Chi Kun da Escola Bin Yun, ensinada pela mestra Fan Xulan. “No começo do aprendizado é necessário a presença de um instrutor mas, depois de percorridos alguns níveis, a pessoa pode fazer os exercícios sozinha, de forma independente. Nos dias corridos de hoje, é uma grande vantagem”, diz Luciana.

Para o mestre chinês Cao Wen Yuy, sete regrinhas básicas encerram a postura ideal para quem quer praticar o Chi Kun. Elas falam de como estar tranqüilo e integrado com universo, abençoados pela energia de nossos antepasssados e em comunhão com todos os seres. Mestre Cai ensina o Chi Kun em parques, como o da Aclimação em São Paulo, pois privilegia o contato com natureza. Ele está ligado à linhagem do Lao Qi Gong, o Chi Kun antigo, uma linha tradicional chinesa.

Vamos ver agora a atitude correta para aprender o Chi Kun, segundo o mestre Cai Wen Yu:

1. Percepção
A maneira tranqüila e suave de se conduzir o pensamento e a elegância dos movimentos são muito importantes no Chi Ku. Bem conduzidos, pensamento e movimento geram uma satisfação interna especial, um bem-estar espiritual. Para isso, devemos pensar que quando, no treino, as coisas se mostrarem difíceis, podemos encará-las como fáceis; quando duras, flexíveis; quando grosseiras, suaves; quando impossíveis, possíveis.

2. Expansão
Para praticar o Chi Kun é necessário cultivar o sentimento de amplidão, abertura e expansão. A visualização pode nos auxiliar: imaginar-se tão vasto como o oceano ou como uma paisagem que se vê do alto de uma montanha pode ajudar muito. Dessa maneira, adquirimos mais abertura, confiança e coragem para viver e perdemos o medo de enfrentar as dificuldades. O pensamento, conduzido dessa maneira, não encontra mais amarras ou bloqueios emocionais. A sensação de amplidão nos traz tranqüilidade emocional, paz de espírito e relaxamento.

3. Perdão
Os sentimentos de vingança, raiva, tensão, tristeza, inveja, enfim, todas as emoções aflitivas, nos enfraquece e desestabililiza. A melhor maneira de eliminar esses sentimentos é perdoar, pois só o perdão pode trazer o equilíbrio interno da energia e, com isso, mais saúde, vigor e bem estar


4. Respeito ancestral
Todas as informações da vida nos foram transmitidas, de geração em geração, pelos nossos antepassados. As vidas de nossos antepassados estão presentes no universo em forma de energia -- e essas forças podem nos ajudar a qualquer momento. Estar conectado com os antepassados e ter gratidão por eles é uma forma de purificar nossos corações e trazer a força de nossa raiz para nossa vida.

5. Inocência infantil
Quando treinamos o Qi Gong, nos lembramos das coisas engraçadas e felizes da nossa infância, o tempo de expontâneidade, pureza, força e alegria anterior à nossa primeira dentição. Pensando e nos visualizando como cranças felizes, podemos despertar

6. Mar de energia
O lugar onde vivemos é um mar de energia. Essa energia está em nós e nós vivemos nela. Quando treinamos, sentimos o espaço e o tempo de maneira distinta, como se estivessemos dentro de outro universo. É a hora para esquecer de nós mesmos, de quem somos, não pensar se somos bonitos ou feios, bons ou maus. È preciso esquecer de nossa própria existência como indíviduos para poder estar em comunhão total com outros seres e o Universo. No Taoísmo, esse estado é chamado de Huanghu, ou não existência individual. Somos todos e tudo, ao mesmo tempo.

7. Três espaços e tempos
Como podemos compreender o passado, o presente e o futuro? Nós tendemos a recordar situações passadas e a projetar situações futuras. O segredo é manter-se atento ao presente, ao eterno agora. Viver do passado cria apego, assim como projetar o futuro. Esses apegos nos prendem a imagens passadas ou futuras, nos impedindo de estar vivendo a vida. Eles podem ser dissolvidos quando nos concentramos no aspecto presente

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